Emicida apresenta a digressão de “O Glorioso” em Lisboa

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Emicida desembarcou em Portugal para o concerto do seu primeiro álbum, “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”. Na noite de ontem, 23, o rapper brasileiro mostrou como se faz hip hop no país tropical e botou todo mundo para cantar e dançar ao seu som, no Armazém F, em Lisboa.

Com um disco que parece mais estar focado na venda dos singles do que no álbum por inteiro, o repertório conta com samba, rock, funk carioca e uma inspiração mais que especial na música africana. Para quem não sabe, o rapper acabou de voltar da África, onde estava a gravar um documentário e o novo disco, que será sobre as suas raízes.

O hit “Levanta e Anda” sacodiu a plateia, que não estava assim tão cheia, e com suas gírias e sotaque paulistano fez todo mundo cantar fervorosamente o refrão. Em “Gueto” e “País do Futebol” mostrou a mescla do rap com o funk carioca, ou melhor, o funk paulistano, chamado de “ostentação”.

Antes de começar “Zoião”, deu um pequeno discurso a falar das folhas de arruda, que é bom sempre ter estrategicamente atrás da orelha. Sabe como é, né? Mais vale prevenir do que remediar, e mal­olhado é uma praga danada! Já em “Hoje Cedo”, que está nos tops das rádios brasileiras e tem a participação da roqueira Pitty, Emicida nem precisou de chamar o público para celebrar com ele. Muitos já tinham tudo na ponta da língua.

Capicua chegou no meio do concerto para fazer a festa com o brasileiro. Cantou “Medo” e “Rua Augusta” um tanto tímida enquanto o Emicida fazia piadas e se sentia à vontade em meios aos portugueses. “Trepadeira”, música com participação do cantor Wilson das Neves, foi samba na veia. Teve direito a violão, como chamam os brasileiros às guitarras acústicas, cuíca e muita percussão. Em “Ubuntu Fristaili” o rapper ensaiou com o público o refrão, fez todo mundo rir com suas brincadeiras e botou o coral improvisado no ritmo.

“Zica” fechou a noite com chave de ouro, já que esta foi a sua primeira canção a estar no topo das paradas brasileiras. Foi um concerto mesmo à brasileira. Teve muita mistura de géneros, de gente, de vozes e de cultura e, acima de tudo, teve gratidão pelos antepassados, em especial, aos africanos, que já faziam música há tempos. Como disse o próprio rapper, eles que inventaram a primeira rede social, o tambor. Porque quando alguém o toca, uma roda se forma e as trocas de cultura e conversa são mútuas.

Com duas datas marcadas em terras portuguesas (dia 22 no Porto e 23 em Lisboa), agora, ele lança voo para Londres, onde continua a digressão pela Europa.

Texto por: Mayra Russo

Talento é de família: netos e filho do cantor Gilberto Gil formam banda com amigos

A história da banda brasileira Sinara começa numa amizade. Luthuli Ayodele e Francisco Gil são amigos desde pequenos e a música sela esse laço que já existe há anos. O pai de Luthuli é compositor e produtor cultural e trabalhou com o avô de Francisco. Assim, entre músicas e ensaios, fez-se a amizade entre os dois. Na entrevista com a repórter MAYRA RUSSO, ambos falam sobre a carreira da banda que formaram, os desafios para um grupo ainda iniciante e dão detalhes das canções que estão gravando para o primeiro EP deles.

Fotografia de Peter Wrede.

Fotografia de Peter Wrede.

A Sinara ainda está dando os primeiros passos, mas o sobrenome de peso dos guitarristas Francisco e João Gil e do baterista José Gil chamam a atenção dos média. É verdade, os meninos têm como patriarca da família um dos mestres da música popular brasileira que leva o som feito no Brasil para o mundo. Gilberto Gil é pai de José e avô de Francisco e João. Mais ainda! Francisco é filho da cantora Preta Gil com o ator Otávio Müller. A arte já está no sangue. Para completar a banda, além dos descendentes de Gil e do vocalista Luthuli, tem também o tecladista Léo Israel (filho do ex-integrante do Kid Abelha, George Israel) e o baixista Magno Brito.

A conexão do Gil com os meninos da Sinara é praticada à exaustão pelos média, mas Francisco garante que estão tentando trilhar o caminho com os próprios pés. “Sempre tem minha mãe ou as pessoas do média que querem estar aí ajudando a gente, mas a gente procura evitar. Queremos seguir um caminho mais natural das coisas, o nosso caminho”, afirma o filho de Preta. E eles têm conseguido provar que têm talento. No festival Rider Weekends, que aconteceu no Rio de Janeiro, em Fevereiro, os seis rapazes atraíram mais de 700 pessoas para ouvir suas faixas autorais, como “Floresta” e “Psicologia”.

Luthuli é o compositor oficial do grupo, mas também divide as letras com a malta. “Tentamos nos encontrar para compor junto. Eu faço a letra e chamo o Zé (José Gil), o Fran (Francisco Gil), o Magno para me ajudarem. Então acaba que tudo é nosso. Todo mundo tem um ingrediente no nosso bolo”, explica o vocalista. A sonoridade da Sinara não tem uma delimitação. Os meninos juntam as suas raízes, que vão desde MPB e bossa nova até soul e rock, e criam sem rótulos. “A gente não quer rotular. Eu quero ver o que as pessoas vão dizer. Uma hora elas chegam em alguma conclusão aí”, argumenta Francisco.

Ter uma base cultural tão eclética se reflete na musicalidade do primeiro EP (ainda sem previsão de lançamento). O reggae, rock e rap são géneros que, com certeza, vão ser encontrados nas três músicas que a Sinara está gravando em estúdio. “Antes que Eu Morra”, “Marchando” e “Favela” são as faixas que vão compor o EP e são bem diferentes uma da outra, de acordo com Luthuli. Além disso, também estão em fase de filmagem do primeiro videoclip. “Floresta” está sendo filmada no Rio de Janeiro e explora o lado ator dos músicos. “Está sendo diferente também porque a gente não está acostumado a fazer isso. Por incrível que pareça o resultado está sendo muito bom. Eu não sabia nem que eu sabia atuar tão bem”, brinca Luthuli.

Mesmo sem ter datas programadas de quando vai ser o lançamento do EP e do vídeo de “Floresta”, a Sinara tem planos de produzir alguns poucos CDs para serem vendidos nos concertos, mas vão também disponibilizá-lo gratuitamente na internet. Para ler na íntegra entrevista clique aqui.

 

Texto por: Mayra Russo.

Nega Jaci (en)canta o repertório de Chico Buarque e Elis Regina

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Escondido no Beco do Rosendo, um mundo cheio de “brasilidade” residiu no passado sábado, 21. Ao subir as escadas, veio a surpresa. Não é que esse tal de Renovar a Mouraria estava entupido de gente? Lá dentro, quem dava a voz e o batuque para a animação do povo era a cantora brasileira Nega Jaci. Ao lado dos seus músicos, a baiana relembrou sucessos da carreira de Chico Buarque e Elis Regina através do seu projecto “Nega Canta Chico e Elis”.

Alô alô Marciano”, “Essa Moça Tá Diferente”, “Tiro ao Álvaro”, e outras músicas que embalam os finais de semana até hoje, agitaram aquela noite de sábado. Com uma voz potente, um requebrado vindo da Bahia e uma simpatia imensa, Nega Jaci conquistou o público presente. A todo minuto mais pessoas subiam as escadas do beco e corriam para ouvir o som que estava encantando quem passasse por perto.

A baiana dançou, cantou e chamou o público para cantar ao lado dela. E não parou por aí! Além das canções de Chico e Elis, também inseriu músicas de Maria Rita (filha de Elis), João Gilberto e outros célebres da música brasileira. Até Amy Winehouse se transformou em samba-reggae nas mãos da Nega.

O concerto inteiro foi cantado em coro pela malta que se aglomerava dentro do Renovar a Mouraria e ia se alastrando pelos arredores (onde tivesse espaço estava valendo!). O que o público queria era ouvir a voz, o sotaque e o molejo da Nega. Como diz Gilberto Gil numa das suas canções que ganharam o mundo, “toda menina baiana tem encantos que Deus dá”.

Texto por Mayra Russo.

Twin Shadow entra na banda sonora do filme Paper Towns

To The Top”, canção do Twin Shadow, está presente no trailer de um dos filmes adolescentes mais esperados do ano, “Paper Towns”. Essa música faz parte do último álbum lançado pelo George Lewis Jr. (o cantor por trás do Twin Shadow), nomeado “Eclipse”. O disco foi colocado à venda na passada terça-feira, 17, no iTunes.

Pelos vistos, pode-se esperar “To The Top” na banda sonora de “Paper Towns”, filme baseado no livro de John Green.

Texto por Mayra Russo.

“O rap foi uma parada muito importante na minha vida em relação à questão racial”, explica Rael em entrevista

O rapper brasileiro Rael tem dois álbuns e um EP, lançado recentemente, em sua carreira. Com os dias contados para terminar a digressão de “Ainda Bem que Segui as Batidas do Meu Coração” (2013), ele já tem marcada a data para iniciar a tour do EP “Diversoficando”, editado no fim de 2014. A repórter MAYRA RUSSO conversa via Skype com o cantor, músico e compositor, que fala sobre preconceito, a cultura hip hop e as novidades produzidas por ele.

Conhecido pela mistura de géneros musicais brasileiros e reggae com o rap, ele acaba por abranger um grande público através das suas canções. “Acho que essa mistura é um convite para outras pessoas e até as mais velhas também a começarem a ouvir rap”, revela Rael em entrevista. Embora essa não seja a receita principal para fazer com que o hip hop chegue ao topo das paradas, é uma maneira de dialogar com um público mais abrangente.

“Ser Feliz”, “O Hip Hop é Foda Parte 2”, “Hoje é Dia de Ver”, “Pré-Conceito” e “Envolvidão” são as faixas de “Diversoficando”, e foram todas disponibilizadas para download gratuito e pode encontrá-las também nos muros do Rio de Janeiro e de São Paulo. A malta conecta os fones em paredes com a logo do EP, e podem ouvi-lo de borla. Para Rael já não vale a pena lutar contra o download ilegal e gratuito, é preciso unir-se à essa ideia e fazê-la de maneira a chamar mais gente possível para ouvir as suas canções. “As pessoas que consomem já estão acostumadas ao artista disponibilizar de graça. E as pessoas que baixam isso de graça são as que vão no show, que também compram o físico às vezes”. O rapper acredita tanto nesse modo de distribuição que desistiu de assinar o seu último EP com uma gravadora justamente porque não queriam deixá-lo colocar para download gratuito.

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Imagem: Divulgação/ Facebook Rael.

Vindo da favela paulistana (o que ou quem é da cidade de São Paulo), as temáticas rondam assuntos que têm gerado furor entre os jovens que vivem na periferia, como o preconceito e a importância exagerada que tem-se dado aos bens materiais. “Esses dias eu fui numa festinha que teve na escola do meu filho e vi que eu era o único negro lá. Eu me senti incomodado, saca? Mas as pessoas estavam tranquilas. Eu vi que era uma ‘encanação’ minha. Devido a essa ‘chaga’ que fica de tanto você ter passado por situações de preconceito. Mas eu fico vendo que rola esse lance da classe mesmo”, responde ao ser perguntado se acredita que o preconceito no Brasil ainda é racial ou se é mais social. Emenda ainda que Os Racionais o ajudaram muito na afirmação da identidade e a andar de cabeça erguida. “Antigamente as pessoas falavam: ‘ah, entra água no seu cabelo?’. E eu não sabia o que dizer, não tinha resposta. Aí Os Racionais vieram com um discurso muito bacana que me deu autoestima e eu comecei a bater de frente com as pessoas e a não ligar muito para isso, para quem era muito idiota”, assume o brasileiro, que aprendeu com o rap a enfrentar o preconceito racial numa época que esse assunto era tabu até dentro de casa e nas escolas.

“Envolvidão” é a única faixa romântica e é também a mais comercial, sendo a que alcançou mais visualizações no YouTube. Mas Rael acredita que há uma divisão na sociedade. Existem pessoas que se importam com o que acontece na periferia e gostam mais de canções como “Pré-Conceito” e outras que pensam apenas na “possibilidade de agregar valor e dar uma expansão só para elas mesmas”. Por ter o tema principal o amor, muitas mulheres acabam se identificando mais com essa faixa do que com as outras quatro.

Sendo o hip hop uma cena que enfatiza a realidade e coloquialidade, o brasileiro revela a importância do género no seu crescimento pessoal e artístico. “O rap foi uma parada muito importante na minha vida em relação à questão racial, que hoje em dia eu sei lidar com isso. Não me afeta. Quem tem esse tipo de pensamento, de comportamento eu tenho pena na verdade. Acho que é uma ignorância tremenda. Os moleques da quebrada estão com uma autoestima maior agora.”

A preocupação maior do Rael é passar conselhos para os mais jovens, assim como acredita ter sido aconselhado através das músicas d’Os Racionais e do rapper paulistano Xis. “Acho que é uma responsabilidade que a gente tem, sim, de tentar abrir os olhos das pessoas, de fazer elas enxergarem que elas são maiores do que elas acham que são, que não é só porque você tem um sistema de ida e vinda, de ir trabalhar, pegar autocarro cheio e voltar, que a sua vida é só isso. Têm muitas outras coisas para se conquistar além do dinheiro, que são coisas pessoais, internas.” E completa com a visão que tem dos jovens hoje em dia. “A molecada está se perdendo muito. Eles não se acharam ainda como pessoa, como ‘o que eu vou ser? O que eu vou buscar?’. Não tem essa ambição saudável. Primeiro ele quer um ténis foda, uma mota foda. Eu acredito que a gente possa consumir. Eu quero ter coisas também. Mas essas coisas não podem falar por mim, não podem vir primeiro e nem serem o ponto vital da minha vida. Então eu tento pregar isso para a molecada.”

Durante a conversa (para ler a entrevista completa, clique aqui), Rael admite ter vontade de trazer a digressão de “Diversoficando” para a Europa e anuncia o dia 12 de Março para o início da mesma em São Paulo, no Brasil.

Faz Música Lisboa anuncia data e chama o público a indicar bandas que querem ver ao vivo

A essa altura do ano, toda a gente já fica à espera das line-ups dos festivais de verão e ansiosos para verem as suas bandas favoritas ao vivo. Com esse objetivo, a festa Faz Música Lisboa começou o ano a convocar o público a indicar os grupos que querem ver a tocar nos palcos espalhados pela capital portuguesa e terem a chance de participarem na escolha da line-up deste ano.

Para quem não conhece, a Faz Música está a atuar há cinco anos em Portugal, e é uma festa baseada na francesa Fetê de la Musique. Esta tradição celebra a música todos os anos durante o mês de Junho e está presente em 116 países e 450 cidades. Aqui, está desde 2010 e envolve vários géneros musicais em palcos montados em praças e espaços turísticos de Lisboa.

A ser realizado no dia 20 de Junho, o evento está a chamar a todos para indicarem os seus artistas favoritos para tocarem na festa. É muito simples. Se tocas numa banda ou conheces alguém que o faz, manda um vídeo, áudio ou a página do Facebook deles para o grupo “Faz Música Connosco” (clique aqui para abri-lo) e pronto. A equipa vai escolher os músicos mais indicados ou os que se adequarem mais aos estilos musicais presentes nas temáticas deste ano.

Em parceria com a ETIC, em 2014, foi produzido um palco da escola que levou como atrações estudantes de música com o som eletrónico feito por eles próprios e a grande estrela do dia foi o rapper NBC, no Largo dos Camões. Além desse, tiveram palcos de blues, jazz, fado, rock, música do mundo e música brasileira.
Faz Música_NBC

Em 2015, a Faz Música promete que está a preparar a melhor festa de sempre! São muitas novidades que serão reveladas ao longo desses meses e poderão ser acompanhadas através da página no facebook, site e aplicativo para telemóveis. Estás a espera de que para marcar presença nesse evento? É gratuito!

Texto por: Mayra Russo.

Fotografia: Fábio Caetano, Bárbara Lizardo e Tiago Charrua (alunos ETIC)

Monobloco – Ao Vivo

Arrasta a mesa de centro para o lado que o Carnaval está prestes a aterrar na tua sala. É o Monobloco! Ao vivo e a cores, um dos grupos brasileiros mais famosos de percussão leva-te a um dos Carnavais mais dignos do mundo no CD e DVD “Monobloco – Ao Vivo” lançado em 2005. Bem-vindo ao Brasil!

Sai do chão que esse é um álbum impossível de ouvir sentado ou parado! É muito samba no pé e clássicos da música brasileira sendo reinterpretados pelo batuque do Monobloco comandado no vocal pelo ícone do subúrbio carioca e do baile charme, o ator e cantor Sérgio Loroza, e os cantores Pedro Luís, Rodrigo Maranhão e Fábio Allman. É um verdadeiro Carnaval dentro da tua própria sala.

Poupa na vaidade. Esse é um item dispensado depois alguns minutos ao som do bloco (orquestras de instrumentos percussivos, em sua maioria, e que desfilam nas ruas durante o Carnaval) mais agitado do Rio de Janeiro. É para pular, para suar, para “mexer as cadeiras”, como se diz no Brasil. Mesmo quem não saiba acompanhar as músicas, que acompanhe na vibração positiva emitida pelo grupo, que não cansa nem um segundo, encarnando o verdadeiro espírito carnavalesco.

Foca na hidratação e esquece as aulas de dança. Água, impreterivelmente, será requisitada aos litros em meio a audição desse DVD. Acredita. Já a dança… Sinceramente? Ninguém está a se lixar para o modo como estás a sentir a música, contanto que a sintas. Parado é que não pode ficar com um repertório embalado por ritmos brasileiros que balançam o povo de norte a sul do país. Tem funk carioca, samba, forró, MPB e soul music enchendo o público presente no Circo Voador (casa de eventos do Rio de Janeiro) de swing naquela noite de 10 anos atrás.

Deixa a vergonha de lado, menina (o). Como diz uma marchinha tradicional brasileira, “não me leve a mal. Hoje é Carnaval!”. E com essa desculpa, “se joga” na pista, seja ela escondida dentro do quarto ou nas festas de rua. No dia que conseguir, aí, sim, terá entendido o verdadeiro significado do Carnaval, que anda lado a lado com o que é o Monobloco.

A empolgação emanada do palco desse DVD é tanta que chega ao ouvinte do outro lado do oceano, e, automaticamente, vai balançando os ombros, as mãos, e quando percebe já está de pé a requebrar ao som do bloco carioca. Esse álbum é um convite irresistível ao melhor Carnaval do mundo e no quesito música, a nota é 20!

Texto por Mayra Russo.

RAPadura, o rapentista do sertão brasileiro

(Se souber como é o sotaque nordestino, se faz favor, leia com ele)
Oxente*! Esse cabra* que vou vos contar é arretado* por demais. Lá do meio do sertão brasileiro, um tal de Chico resolveu se meter nos engenhos e gravar uma fita com os seus repentes* embolados no rap e nas tradições da região preferida pelos estrangeiros. Mal sabendo eles, que Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e etc não são apenas belas praias, muito bem contrário. É um povo cheio de cultura, sotaque carregado, vatapás* apimentados e perrengues* que só quem vive na seca sabe, viu, moça?
Em terras de Gonzagão, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Alceu Valença, Zé Ramalho, Daniela Mercury, Ivete Sangalo e tantos outros, o Chico num podia fazer por menos. Tinha que encher de orgulho os cabras macho* da família. O danado do menino deixa todo mundo abestado* quando bota o seu som, ou melhor, o seu rapente* para tocar. O homi* faz rap, faz baião, faz maracatu e um xote arretado. Tudo isso no estilo das repentes, narrando as histórias igualzinho na época dos cangaceiros* e das tantas “Marias bonitas*” que existiram no sertão brasileiro.
O Chico, que agora é conhecido como RAPadura*, vai te levar pro arrasta-pé* e te contar os causos* mais tradicionais do povo nordestino com as cantigas* dele.

*Oxente – Termo usado, principalmente na região nordeste do Brasil, para expressar surpresa, exclamação.
*Cabra/cabra macho – Indivíduo valente; intrépido.
*Repente – é uma tradição folclórica brasileira cuja origem remonta aos trovadores medievais. Especialmente forte no nordeste brasileiro, é uma mescla entre poesia e música na qual predomina o improviso.
*Vatapá – é um prato típico da culinária do Brasil, sendo originário da Bahia.
*Perrengue – situação de dificuldade, aperto, sufoco.
*Abestado – Pessoa boba, besta.
*Rapente – Rap com repente.
*Homi – Homem.
*Cangaceiro – Empregado principalmente para indicar o bando armado do notável Capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampeão, que atuou na caatinga nordestina entre 1920 e 1938, enfrentando tropas militares governamentais no combate ao latifundio improdutivo e a miséria da região. Paladino considerado o Robim Hood brasileiro, protegido do Padre Cícero Romão Batista.
*Maria bonita – Maria Gomes de Oliveira, vulgo Maria Bonita, foi companheira de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião e a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros.
*Rapadura – Doce típico do Nordeste brasileiro, feito com cana-de-açúcar.
*Arrasta-pé – Festa de cunho popular onde se dança arrastando o pé.
*Causo – Causos, é simplesmente o plural de CAUSO que é uma história inventada ou verdadeira que pode ser contada de uma forma maior.
*Cantiga – Composição musical curta de caráter popular, pode revelar sentimentos ou sátira, destinada a ser cantada.
Significados retirados do site Dicionário Informal (http://www.dicionarioinformal.com.br/) e Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/).

Texto por Mayra Russo.

 

Entrevista Banda do Mar‏

Às vésperas do primeiro concerto em Lisboa, Banda do Mar conversa com o Notas à Solta.

Faltando poucos dias para o concerto de estreia da digressão da Banda do Mar em Portugal (com ingressos esgotados nos dois dias de apresentação em Lisboa), a vocalista Mallu Magalhães e o baterista Fred Ferreira conversam com MAYRA RUSSO sobre o futuro do grupo e o sucesso após o lançamento do primeiro álbum. Segurem o fôlego e podem soltar o sorriso porque Mallu e Fred afirmam que a Banda do Mar veio para ficar.

Existe aquele lema “a união faz a força”, e no vosso caso, com certeza faz. Cada um separadamente já era reconhecido pelo seu trabalho, mas unidos vocês conquistaram muita gente em pouquíssimo tempo. Como conseguiram ter tanto sucesso logo no primeiro álbum da banda?
MALLU MAGALHÃES – (pensativa) Puxa, acho que muita dedicação. Estamos o tempo inteiro pensando em tudo o que envolve a banda, desde os cartazes até os nossos parceiros, quem vai tocar no show, o músico, o substituto do músico, técnico de som, os vídeos, as fotos, o facebook… A gente pensa na banda o dia inteiro. Acho que essa dedicação é um trabalho diário, intenso e que dá frutos. A nossa parte é fazer muita divulgação, dar entrevistas… Tudo isso é muito importante. Acho que tudo isso contribuiu para a gente conseguir tanta repercussão. E lógico que também o conteúdo que, pessoalmente, eu acho muito legal (risos). É um grande disco, e isso conta também. Se o pessoal gosta é porque talvez seja mesmo bom (risos).

No Brasil, a Banda do Mar foi destaque em diversas publicações, inclusive as mais aclamadas no país, como o Estadão e a Super Interessante. Aqui, esteve nos destaques de 2014 da Blitz e teve muita procura dos fãs portugueses em relação ao vosso concerto. Foi um CD pensado para ter uma sonoridade de destaque em ambos os países ou quando perceberam a música de vocês já tinha alcançado uma repercussão imensa?
MM – Eu acho que não foi tão pensado, né, Fredinho?
FRED FERREIRA – O que queríamos fazer era o melhor possível. O fato de cantarmos em português já nos coloca a comunicar com Portugal e Brasil, mas nunca falamos sobre isso. É natural que por estarmos aqui a morar e por termos uma ligação com o Brasil comunicarmos mais com os dois lugares. O nosso objetivo era poder tocar em ambos os países nessa primeira fase da nossa digressão.
MM – O nosso objetivo sempre foi esse mesmo. Pensávamos mais em ter um bom resultado. Queríamos ter uma boa árvore e não só colher o fruto.

Essa árvore que vocês fizeram tem influências tanto do Brasil quanto daqui?
MM – Ah, acho que bastante. Nós três somos bem ecléticos. O Fredinho então…

Pois, aqui em Portugal ele trabalha com diversos artistas. Foi dessas bandas que o Fred participou que vocês trouxeram alguma coisa para compor a Banda do Mar?
FF – A Banda do Mar, antes de mais nada, foi inspirada na nossa amizade. É uma coisa diferente porque já somos amigos há muitos anos e a vinda deles para cá (Mallu e Marcelo moram em Lisboa atualmente) resultou em formarmos uma banda porque somos músicos. Mas também surgiu ideia de fazer outras coisas, tipo uma padaria. Nós queríamos é estar juntos. Se for a tocar, que é o que gostamos mais, melhor.

Que legal! A amizade de vocês vai para além da música. Vai para todas as áreas.
Ambos – Muitas!
MM – Aliás, na música, tocar mesmo é 10% do tempo, talvez menos. A maioria é espera…
FF – Check-in aqui, raio-x acolá…
MM – Então as suas companhias são fundamentais. Para gente, estar entre nós três, é demais!
FF – É ótimo! Eles riem-se das minhas piadas.
MM – (risos) Agora está precisando renovar o repertório. Já está repetindo as piadas. (risos)

Músicos e cantores, mais até os portugueses do que os brasileiros, conseguem ter dois ou mais projetos paralelamente na carreira deles. É esse o futuro do cenário musical?
FF – Depende. Eu acho que sim se utilizares o meu caso, por exemplo. Eu consigo trabalhar com mais pessoas porque também o meu instrumento permite. Acho que se for um cantor é diferente, não é algo que dê para estar a aparecer muito. Agora, se a Mallu for cantora na Banda do Mar e no projeto a solo e baterista numa banda, aí já acho bom. Até curtia ver uma banda com a Mallu a tocar bateria.
MM – Ah, Fred! (risos) Só você mesmo.

Mallu, você e o Marcelo estão morando aqui, mas têm passado muito tempo no Brasil por causa da digressão. Já tiveram tempo de conhecer algum artista, alguma música feita aqui?
MM – Aqui a gente convive com a cena musical portuguesa através do Fred e dos amigos que a gente fez, que são os amigos do Fred (risos). Uma vez conhecendo a pessoa a gente passa a acompanhar o trabalho também. Me identifico muito com o Nick Nicotine, a minha professora de canto, a Ana Cláudia, que acabou de lançar um disco legal caramba… O próprio Orelha Negra, a banda do Fred, sempre ouvi para correr.

Tendo o Fred, que já trabalhou com muitos músicos portugueses, vocês pensaram em trazer algum deles para uma participação especial nos concertos que farão aqui?
FF – Acho que a participação especial quase que é mais só o Sebastião (filho mais velho do baterista), que já tocou connosco lá no Circo Voador (casa de eventos no Rio de Janeiro). Isso é na brincadeira. Por acaso nunca falámos nisso. Até era uma coisa que nós gostávamos. Acho que para as coisas serem bonitas nós temos que ser surpreendidos e têm que acontecer naturalmente. É que nós não sabemos mesmo (se terão participações especiais). Até podemos, de repente, encontrar o Rodrigo Amarante a irmos para o show e convidá-lo para tocar connosco. Ou o António Zambujo, o Miguel Araújo… Gostávamos de ter um dia alguém que vá lá cantar connosco.

Os fãs portugueses podem esperar mais atuações da Banda do Mar em Portugal ainda este ano, além dessas datas marcadas?
FF – Claro, os portugueses podem esperar e os brasileiros também. Ainda vamos voltar para lá.
MM – Ainda tem muito show esse ano. Vai ter mais do que o ano passado. A digressão em Portugal vai até o final do verão e a do Brasil termina em abril.
FF – Tem os festivais de verão daqui também. Quer dizer, os festivais não sabemos, mas esperamos que sim.

Banda do mar (1)Texto por Mayra Russo.

Zaz- “Paris Sera Toujours Paris”

Zaz, nome artístico de Isabelle Geffroy, é a francesa que tem dado o que falar na cena musical internacional. Logo em seu primeiro álbum, intitulado de “Zaz”, a cantora recebeu diversos prémios, inclusive o de “Música Revelação”, com seu single de estreia “Je Veux”, pela Academia Charles Cros.

Quatro anos depois, Zaz divulga o terceiro disco de sua carreira a solo, “Paris”, em homenagem à cidade luz, em novembro de 2014. São 13 faixas que demonstram o carinho da cantora pela capital francesa, as belezas e a personalidade local. Em “Paris Sera Toujours Paris”, primeiro videoclip revelado deste novo álbum, Zaz leva o espectador numa viagem pela cidade e leva o brilho inato de Paris aos turistas. Numa mistura de pop, canção francesa, jazz e soul compõe-se a musicalidade da francesa.

 

Texto por: Mayra Russo