“The Pale Emperor” de Marilyn Manson

Para “Álbum da Semana” decidi partilhar convosco a crítica que fiz ao novo álbum de Marilyn Manson, The Pale Emperor. 

Marilyn Manson

The Pale Emperor

Hell, etc.

14/20

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O músico americano Marilyn Manson está de volta ao mundo pesado da música, após um descanso de três anos, com um novo álbum: The Pale Emperor. O sucessor de Born Villain é, provavelmente, um dos discos mais acessíveis da banda. As 10 músicas que compõem este álbum são quase todas calmas, talvez por terem um toque de blues. Não há nada de novo em The Pale Emperor. Não há agressividade, nem indignações, nem sons novos. Não encontramos aqui o escandaloso artista que aterrorizava a nossa infância. Encontra-se um Marliyn Manson cansado, um pouco perdido, sem rumo e sem ideias para causar impacto ou aterrorizar o mundo. Por incrível que pareça, é um álbum simples e vulgar. Muito apetitoso logo no inicio,  mas o prazer pelo menos vai morrendo aos poucos.  Marilyn Manson está a dizer “olá” à reforma.

Texto por: Laura Pinheiro

Marina and the Diamonds – Froot

Sem filtros e sem tretas, Marina Diamandis oferece-nos a jóia mestra da sua coroa ao 3º álbum de originais, sumarento da primeira à última fatia.

A luta pela autenticidade e a denúncia da corrupção moral e social têm sido as duas grandes contendas que Marina and the Diamonds tem travado ao longo destes 5 anos de actividade editorial. Causas que a tornam numa das mais interessantes artistas pop da sua geração, mas ao mesmo tempo tão incompreendida e subvalorizada por todos aqueles que não ousam olhar para lá da superfície (quantos pensarão ainda que Electra Heart foi uma tentativa falhada de aproximação ao mainstream?)

Depois de 2 álbuns a olhar para fora, é chegada a vez de olhar para dentro num frutuoso processo de psicanálise e instrospecção que se revela libertador e certamente gratificante para quem se embrenhava demasiado nas teias da ironia e da caracterização. Como a própria, aliás, admite: “Maybe I was ready to change. Maybe I was ready to leave a lot of things I’d held onto in the past behind. I don’t know if that happens to other people when they hit a certain age, but I know that it was important for my future”.

Palavras, é sabido, leva-as o vento, mas quando um disco começa com uma canção tão reveladora quanto “Happy”, sabemos que não lhe poderíamos exigir maior transparência: ” I found what I’d been looking for in myself/ found a life worth living for someone else/ never thought that I could be/happy”. E tudo aquilo que se seguirá ganha uma maior dimensão.

O tema-título é uma estonteante (e longa) produção retro de disco e new wave para pegar, trincar e meter na cesta; “I’m a Ruin” apresenta-a como elemento tóxico de uma relação que se vê obrigada a terminar antes que destrua ambos os elementos. É memorável pelo convite ao sing-along do refrão, mas teima em ser algo repetitiva. “Blue” é do mais cândido que por aqui se encontra, construída à base de harpa e synthpop esparsa, com Marina a confessar arrepender-se da ruptura amorosa de há dois temas atrás (“I need a man to hold on to/ I’m bored of everything we do/ but I just keep coming back to you”).

“Forget” é o triunfo da artista capaz de reproduzir em disco uma performance sustentada pelo apoio de uma banda, como se tivesse sido captada num só take, em cima do palco. Liricamente é redentora (“I’ve spent my days in deep regret/ I’ve been living in the red/ but I wanna forgive and forget”). O calor dos trópicos chega com “Gold”, um dedo do meio espetado ao capitalismo ou aos homens que a tentam conquistar através do vil metal. Como às tantas diz: “there’s no moral to this story, but I can hear my freedom calling me”. E isso é impagável. Em “Can’t Pin Me Down” dá mostras de não ceder às expectativas de terceiros (“I am never gonna give you anything you expect/ you think I’m like the others/ boy you need to get your eyes checked”) ou de comprometer a sua integridade (“You can paint me any color/ I can be your russian doll/ but you ain’t got my number/no, you can’t make me small”).

Na soturna “Solitaire” confessa o apreço pela solidão, temendo, no entanto, a carga negativa associada à palavra. “Better than That” é o aviso que deixa aos homens que um dia se depararam com uma Electra Heart na sua vida (“she’ll network ‘till her dreams come true, even if it means getting into bed with you”), num tom mais complacente do que recriminatório (“I know that you’re not to blame, you just got caught in a game”). “Weeds” soa a algo que Shakira faria num dos seus temas em castelhano, talvez pelas fortes linhas melódicas conferidas pela guitarra. As ervas, essas, são daninhas e referem-se às suas antigas paixões e às memórias que deixaram (“I miss all of my exes, they’re the only ones that know me”).

“Savages”, ópera apocalíptica acerca da condição humana reduzida ao seu estado mais animalesco, é facilmente o ponto alto de Froot. A produção oscila entre a synthpop austera dos Eurythmics e o apelo pop fantasmagórico de “Thriller”, enquanto os versos preenchem-se de interrogações (“Were we born to abuse, shoot a gun and run/ or has something deep inside of us come undone?”) e afirmações sagazes (“I’m not afraid of God, I’m afraid of Man”). O disco termina no Olimpo, com as reflexões escatológicas de “Immortal” e o desejo de perdurar na morte aquilo que construímos em vida. Lá nas alturas, o pano cai.

O divã é bom conselheiro e a sessão de terapia faz maravilhas tanto pelo ouvinte como pela intérprete. Se esta não for a obra da sua aclamação, que seja ao menos o primeiro passo para a compreensão da figura sem ideias pré-concebidas ou erros de julgamento. Bling bling, nham nham.

texto por Gonçalo Dias

“Short Movie”, de Laura Marling

Solidão, espiritualismo e a assertividade do costume fazem de Short Movie mais um declarado triunfo para Laura Marling.

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Aos 24 anos e com 4 discos aclamados no bolso, a cantautora britânica sentiu necessidade de fazer um interregno artístico para melhor compreender o que poderia vir a seguir na sua carreira. A paragem levou-a a fazer-se à estrada do deserto da Califórnia (vagueou por Los Angeles, Joshua Tree e pelo Mount Shasta) onde se distanciou de Laura, a intérprete, e se redescobriu enquanto pessoa.

Short Movie é então o recolher dos fragmentos deixados ao longo de uma jornada de autodescoberta em que chegou a duvidar se algum dia conseguiria voltar a fazer música. A típica crise do primeiro quarto século de vida, portanto.

O processo de gravação e composição trouxe visíveis mudanças na sonoridade de Laura Marling, que neste álbum acumula também a função de produtora executiva. Entre elas a mais evidente será o recurso à guitarra eléctrica (presente em “False Hope”, o primeiro single do registo, ou em “Don’t Let Me Bring You Down”) que convive pacificamente com o seu passado acústico mais próximo das tradições folk.

Existem também devaneios bluesy na serenata à lua de “Howl” (“howl at the moon, I’ll come find you”), aproximações ao cancioneiro de Joni Mitchell nas sofridas “How Can I” e “Walk Alone” e um certo espírito de faroeste em canções como “Warrior”, “Strange” ou “Gurdjieff’s Daughter”, estas últimas a receber as prestações vocais mais inspiradas do disco, num spoken-word digno de quem veste as calças e o chapéu de cowboy.

Liricamente, Laura Marling continua tão irrepreensível como dantes, com palavras firmes e duras a sair-lhe com a leveza de uma brisa primaveril. Há desolação passional em “Warrior (“I can’t be your horse anymore, you’re not the warrior I’ve been looking for”), desnorte interior em “False Hope” (“Is it still okay that I don’t know how to be at all?”), temores da jornada presentes em “Don’t Let Me Bring You Down” (“living here is a game I don’t know how to play”) e a redenção pessoal alcançada por via da espiritualidade em “Worship Me”, a bonita faixa de encerramento (“devote your life to peace and breathe”).

Cinco álbuns e um quarto de século de vida às costas e Laura Marling parece ter chegado ao cume da montanha: aquilo que já conquistou a nível criativo, é muito mais do que a grande maioria das suas congéneres poderão um dia vir a alcançar. “I’m just a horse with no name”, canta em “Warrior” – que essa liberdade criativa e de espírito a acompanhem por muitos anos mais.

Texto de: Gonçalo Dias.

Talento é de família: netos e filho do cantor Gilberto Gil formam banda com amigos

A história da banda brasileira Sinara começa numa amizade. Luthuli Ayodele e Francisco Gil são amigos desde pequenos e a música sela esse laço que já existe há anos. O pai de Luthuli é compositor e produtor cultural e trabalhou com o avô de Francisco. Assim, entre músicas e ensaios, fez-se a amizade entre os dois. Na entrevista com a repórter MAYRA RUSSO, ambos falam sobre a carreira da banda que formaram, os desafios para um grupo ainda iniciante e dão detalhes das canções que estão gravando para o primeiro EP deles.

Fotografia de Peter Wrede.

Fotografia de Peter Wrede.

A Sinara ainda está dando os primeiros passos, mas o sobrenome de peso dos guitarristas Francisco e João Gil e do baterista José Gil chamam a atenção dos média. É verdade, os meninos têm como patriarca da família um dos mestres da música popular brasileira que leva o som feito no Brasil para o mundo. Gilberto Gil é pai de José e avô de Francisco e João. Mais ainda! Francisco é filho da cantora Preta Gil com o ator Otávio Müller. A arte já está no sangue. Para completar a banda, além dos descendentes de Gil e do vocalista Luthuli, tem também o tecladista Léo Israel (filho do ex-integrante do Kid Abelha, George Israel) e o baixista Magno Brito.

A conexão do Gil com os meninos da Sinara é praticada à exaustão pelos média, mas Francisco garante que estão tentando trilhar o caminho com os próprios pés. “Sempre tem minha mãe ou as pessoas do média que querem estar aí ajudando a gente, mas a gente procura evitar. Queremos seguir um caminho mais natural das coisas, o nosso caminho”, afirma o filho de Preta. E eles têm conseguido provar que têm talento. No festival Rider Weekends, que aconteceu no Rio de Janeiro, em Fevereiro, os seis rapazes atraíram mais de 700 pessoas para ouvir suas faixas autorais, como “Floresta” e “Psicologia”.

Luthuli é o compositor oficial do grupo, mas também divide as letras com a malta. “Tentamos nos encontrar para compor junto. Eu faço a letra e chamo o Zé (José Gil), o Fran (Francisco Gil), o Magno para me ajudarem. Então acaba que tudo é nosso. Todo mundo tem um ingrediente no nosso bolo”, explica o vocalista. A sonoridade da Sinara não tem uma delimitação. Os meninos juntam as suas raízes, que vão desde MPB e bossa nova até soul e rock, e criam sem rótulos. “A gente não quer rotular. Eu quero ver o que as pessoas vão dizer. Uma hora elas chegam em alguma conclusão aí”, argumenta Francisco.

Ter uma base cultural tão eclética se reflete na musicalidade do primeiro EP (ainda sem previsão de lançamento). O reggae, rock e rap são géneros que, com certeza, vão ser encontrados nas três músicas que a Sinara está gravando em estúdio. “Antes que Eu Morra”, “Marchando” e “Favela” são as faixas que vão compor o EP e são bem diferentes uma da outra, de acordo com Luthuli. Além disso, também estão em fase de filmagem do primeiro videoclip. “Floresta” está sendo filmada no Rio de Janeiro e explora o lado ator dos músicos. “Está sendo diferente também porque a gente não está acostumado a fazer isso. Por incrível que pareça o resultado está sendo muito bom. Eu não sabia nem que eu sabia atuar tão bem”, brinca Luthuli.

Mesmo sem ter datas programadas de quando vai ser o lançamento do EP e do vídeo de “Floresta”, a Sinara tem planos de produzir alguns poucos CDs para serem vendidos nos concertos, mas vão também disponibilizá-lo gratuitamente na internet. Para ler na íntegra entrevista clique aqui.

 

Texto por: Mayra Russo.

“Broke With Expensive Taste” de Azealia Banks

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Azealia Banks tinha tudo para ter feito uma entrada triunfal na indústria – canções explosivas, um imaginário ousado e uma personalidade fortíssima. Infelizmente, revelava também uma grande aptidão para desencadear acesas discussões no Twitter, onde disputas com Angel Haze, Lily Allen, Perez Hilton ou Disclosure foram, aos poucos, remetendo a música para segundo plano.

À medida que ia coleccionando inimigos de profissão e denegrindo a olhos vistos a imagem pública, a demora pelo álbum de estreia tornava-se demasiado insustentável e a coisa eventualmente esmoreceu. Até ao passado dia 6 de Novembro, em que ao melhor estilo de Beyoncé, Broke with Expensive Taste é lançado sem aviso prévio no iTunes. Dois anos depois da data prevista e três após “212” ter accionado o gatilho. E eis que Azealia Banks volta a causar um terramoto.

Ao longo de 60 loucos e desafiantes minutos desfilam um batalhão de produtores, desfiam-se versos corrosivos e exploram-se géneros musicais tão equidistantes do hip hop como a Terra do Sol. Mas é sempre o carisma, o flow e a intensa musicalidade de Azealia que permitem o triunfo desta estreia megalómana.

“Idle Delilah” e “Wallace” trazem o afrobeat e percussão ancestral para o álbum; “Desperado” soa à colaboração não finalizada com os Disclosure, com a sua toada 2-step garage a transportar-nos para o final da década de 90; “Soda” é um refresco melódico confessional; “JFK” é o que melhor capta a ambiência hip house de 1991, o EP de estreia, sendo o único a contar com um valioso featuring vindo da parte de Theophilus London (possivelmente o único rapper a quem não comprou nenhuma contenda). “BBD”, o único exemplar trap do disco, é resgatado do seu antigo reportório e sabiamente adicionado ao caldeirão de especiarias.

Num patamar superior encontra-se o já mencionado “212”, um tremendo cocktail molotov que arde tão intensamente ou mais ainda que há 1161 dias atrás quando foi libertado. “Ice Princess” impõe o respeito perdido e é escultura digna de lhe abrir novamente as portas ao mainstream, enquanto “Chasing Time”, o tema mais acessível feito pela nova-iorquina, recebe uma das primeiras investidas maioritariamente cantadas e resulta num dos momentos mais infalíveis do registo. Há também witch hop à solta no diabólico “Heavy Metal and Reflective”, com bassline titubeante, flow impecável e um “that’s the loveliest thing I’ve ever heard” final à laia de desafio. Mais amoroso do que isso só escutando “Yung Rapunxel”, tortuoso pedaço de hip hop industrial com verborreia crónica e fúria desmedida.

O prémio de momento mais inusitado é repartido entre “Gimme a Chance” e “Nude Beach A-Go-Go”, dois favoritos pessoais. O primeiro atira-se a estilosas secções de instrumentação de sopro e scratch até se espraiar em território latino, com Azealia a cantar em castelhano. Quando se pensa que a coisa não pode ficar mais estranha, deparamo-nos com o contributo de Ariel Pink para o álbum, retro surf pop trauteável à medida de um sketch humorístico do Saturday Night Live. Simplesmente delicioso.

Na recta final do disco encontramos o velhinho “Luxury” da mixtape Fantasea, ainda hipnótico na sua toada trance/R&B e o seu flow melífluo e sedutor. “Miss Amor” e “Miss Camaraderie”, a dupla final, chegam numa altura em que o filão garage/deep house já está mais do que explorado e por isso soam a retalhos facilmente dispensáveis. Bons, mas dispensáveis.

Obra singular, bizarra e audaciosa, Broke with Expensive Taste pode ter chegado com dois anos de atraso mas cumpre todas as promessas que haviam sido feitas pela maior revelação do rap no feminino surgida no séc. XXI. Se a língua venenosa e os pretensiosismos da fama não se intrometerem no caminho do génio, não tardará muito até que Azealia Banks dê asas à sua fantasia bela, obscura e retorcida. Fingers crossed.

Texto por: Gonçalo Dias

Pink Floyd “The Endless River”

Depois de terem lançado “The Division Bell” em 1994, e de terem feito a respetiva tour no mesmo ano, ficou sempre no ar a dúvida da possibilidade ou não de termos os Pink Floyd de volta, com a ideia de Roger Waters voltar a juntar-se aos ex-companheiros sempre presente.

Na realidade, só em 2005 é que voltámos a ouvir falar na banda inglesa, a propósito de uma atuação especial que fizeram no Live 8 e na qual voltámos a ter o tão desejado regresso de Waters à banda. Muitos foram os que pensaram que estava ali um novo recomeço dos Pink Floyd… a quatro. Puro engano, dali não resultou nada e durante mais alguns anos não voltámos a ouvir falar deles.

No entanto, e bem vistas as coisas, David Gilmour nos seus discos e concertos a solo usava uma formação muito idêntica àquela que fez as últimas duas tours dos Pink Floyd. Nick Mason não estava, mas estava Rick Wright e outros músicos convidados que já acompanhavam David Gilmour nos últimos anos da banda.

Rick Wright morre em 2008 e em 2013 os dois sobreviventes decidem pegar nas “sobras” das gravações de “The Division Bell” e ver o que é que se podia aproveitar dali. Encontrados os pontos de partida, foi uma questão de trazer esses sons para o século XXI. Muitas coisas das gravações originais foram regravadas e complementadas com outras novas.

“The Endless River” é um tributo que os dois prestam ao antigo colega. Acima de tudo instrumental, é sem dúvida uma forma bonita de colocar um ponto final na discografia dos Pink Floyd.

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Texto por João Catarino.

Jon Hopkins – Asleep Versions

Chama-se Asleep Versions, mas a meditação não nos deixa dormir. Jon Hopkins, dono de um dos melhores álbuns de 2013, acaba de “limpar” a casa e trata de desarmar as suas canções de maneira totalmente ímpar.

Immunity era um desafio de equilíbrio entre a luz e a escuridão. Asleep Versions é deixar entrar a luz sem reservas. A reconstrução de músicas como Immunity, Form By Firelight, Breathe This Air e Open Eye Signal são feitas de maneira mais simples, deixando os “milhares” de layers que ocuparam as suas produções originais.

A Islândia tem Björk e Sigur Rós, mas pontualmente vai recebendo artistas que necessitam da tal paz de espírito que abre o caminho para a descoberta pessoal. O discípulo de Brian Eno não precisava de se encontrar, mas abriu espaço a outro mundo.

Texto por Alexandre Ribeiro.

Novo álbum de Taylor Swift bate múltiplos recordes nos EUA

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A Taylor Swift-mania volta a atingir em cheio os EUA: 1989, o 5º álbum de estúdio da antiga estrela country que entretanto sucumbiu à pop, vendeu 1,287 milhões de cópias na primeira semana em que esteve à venda, o valor mais elevado registado por um álbum desde 2002.

O álbum que se estreou triunfalmente no nº1 da Billboard 200, é então o primeiro disco a perfazer vendas tão astronómicas desde que Eminem arrecadou 1,322 milhões com o mítico The Eminem Show, há 12 anos atrás.

Mas os recordes não ficam por aqui. Com esta última façanha, Taylor Swift torna-se na primeira artista a conseguir vender 1 milhão de cópias numa semana apenas com 3 álbuns seus: antes de 1989, já Speak Now (2010) e Red (2012), os anteriores títulos da sua discografia, haviam vendido respectivamente 1,047 e 1,208 milhões na semana de estreia.

Tamanhos valores fazem de 1989 o 2º álbum mais vendido de 2014 no continente americano, apenas atrás da banda-sonora do filme da Disney, Frozen, que foi lançada em Novembro de 2013. Logo, o disco torna-se assim no lançamento de 2014 mais vendido nos EUA.

Goste-se ou não da artista, são notícias animadoras para a indústria musical, num ano em que o mercado discográfio continua em queda abrupta e a registar valores mínimos históricos. Uma vez mais, Taylor Swift salva o dia.

Texto por Gonçalo Dias.

Novo álbum de Beyoncé a caminho?

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Beyoncé poderá estar em vias de lançar a sequela do último álbum homónimo editado sem aviso prévio em Dezembro do ano passado.

Segundo uma imagem alegadamente veículada pela Columbia Records e pela empresa responsável pela gestão da sua carreira, a Parkwood Entertainment, Beyoncé: Volume 2 chegará ao iTunes no dia 14 de Novembro, estando prevista a sua edição física para dia 25 desse mês.

O documento revela ainda que o novo álbum será composto por 11 novos temas, entre eles o já conhecido remix de “Flawless” com Nicki Minaj e duetos com Rihanna (“Cherry”) e Justin Timberlake (“Renouncement”). A edição física do disco será ainda ainda acompanhada pela versão integral do projecto que incluirá os dois volumes de canções e três DVDs: um com 28 vídeos, outro com a sua última digressão mundial e um terceiro com o filme-concerto da On the Run Tour que fez em conjunto com Jay-Z neste último Verão.

A cantora poderá assim repetir a façanha cometida por Justin Timberlake no ano passado, quando lançou o díptico The 20/20 Experience de forma faseada num espaço de 6 meses. A questão que impera é se Miss Carter conseguirá, agora já sem o efeito surpresa, igualar ou superar as vendas astronómicas que o volume inaugural alcançou durante os primeiros três dias em que esteve à venda no iTunes, no qual foram adquiridas um total de 828,773 cópias do registo.

texto por Gonçalo Dias

“Tough Love” de Jessie Ware

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Foi há apenas dois anos atrás que Jessie Ware passou de cantora de suporte de um músico indie a musa de SBTRKT para se tornar numa das maiores revelações de 2012. Devotion, a belíssima estreia, ardia numa sedutora combustão de canções downtempo com cunho soul, balanço trip hop e bordadas pelas linhas da nova vaga electrónica que começava a perfurar o mainstream.

Em 2014 encontramos Miss Ware a braços com um Tough Love, que representa precisamente a sua entrada na primeira liga do campeonato pop. Perde-se a atmosfera de Sade evocada em canções como “Running” ou “Swan Song”, a sofisticação sonora de um “110%” ou “Night Light” e grande parte do embalo sedutor que perfumava o disco de estreia. Por outro lado, ganha-se uma intérprete de mão cheia que canta sobre amor, desamor e outros infortúnios que tais de coração nas mãos e rodeada pelos mais talentosos produtores contemporâneos (Two Inch Punch, Benny Blanco, Dev Hynes, James Ford, Emile Haynie).

Não inocentemente, o tema-título é a canção mais arrebatadora do álbum, um eventual posfácio da era de Devotion que tão bem introduz este novo registo, mas ilusório para quem esperava uma evolução na continuidade. “You & I (Forever)” soa a reconstrução new wave de “Bleeding Love”; “Cruel” vive de orquestração polida, percussão ligeirinha e ressentimento aos molhos. Um bom trio inicial.

Com “Say You Love Me” assiste-se à banalização das suas potencialidades artísticas e ao expoente máximo de lamechice, num tema feito à medida de Ed Sheeran – com créditos na escrita – e da banda sonora daquela série, filme ou talent show da berra. “Sweetest Song” esforça-se por recuperar a credibilidade neo soul cultivada em Devotion, mas está ao nível dos momentos mais mornos desse álbum. E a coisa desliza um bocado.

A confiança é recuperada no ultra-sedutor e cardíaco “Kind of…Sometimes…Maybe” com o norte-americano Miguel a emprestar a sua aura de Prince à canção, bem como na maravilhosa “Want Your Feeling”, aprimorada pelo génio do esteta Dev Hynes e com um gostinho disco/funk que lhe confere um groove irresistível. Segue-se “Pieces”, a balada de excelência do disco, com Jessie Ware a fazer a sua melhor personificação de Celine Dion e a assinar um refrão que parece querer rivalizar com o de “Last Christmas”.

Os últimos metros do disco são calcorreados ao som de “Keep on Lying”, que facilmente passa pela composição mais expedita do álbum, com a sua leve brisa dos trópicos entrecortada por celestiais investidas de gospel. O êxtase chega com a luxúria num colchão de água e lençóis de cetim de “Champagne Kisses”, a transbordar de felicidade por todos os poros, dando lugar ao pedido de restabelecimento do amor e serenidade em “Desire” (“take me in your hands/ love me like we used to know”), a fechar o disco na mó de cima.

Intenso, lamechas por vezes, ferido e turbulento – assim é este Tough Love, um esforço nitidamente comercial da parte de Jessie Ware, menos interessante face à estreia mas igualmente apaixonante. O encanto e talento desta senhora, porém, não se esgotarão por aqui.

texto por Gonçalo Dias