Tiago Iorc é entrevistado durante sua passagem por Lisboa

O cantor brasileiro apresentou a turnê “Voz + Violão” no festival Vodafone Mexefest, no sábado passado, 29, e concedeu uma entrevista.Tiago Iorc (2)

Numa sala praticamente lotada, Tiago Iorc subiu ao palco montado numa das salas da Sociedade de Geografia de Lisboa apenas com o microfone e o seu violão. Com um repertório que pareceu se encaixar perfeitamente ao som acústico do cantor, ele improvisou com as palmas e estalos do público. A noite foi aberta com “Um Dia Após o Outro”, uma das composições próprias que o cantor mais gosta. E, para delírio de um público massivamente português (um pouco mais de cinco brasileiros na plateia), Tiago apresentou, pela primeira vez ao vivo, uma música inédita composta com Duca Leindecker, chamada “Até Aqui”. Logo após, surpreendeu a todos ao descer do palco e cantar caminhando entre a público “Dia Especial”, numa demonstração exemplar do que é uma roda de violão. “Sorte” foi a escolhida para fechar o show, e teve a interação da plateia cantando e se divertindo na turnê “Voz + Violão” do brasileiro Tiago Iorc. Após o secret pocket show, na Casa do Alentejo, ainda no festival Vodafone Mexefest, o cantor conversou com MAYRA RUSSO e prometeu voltar ano que vem a Lisboa.

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O clipe acústico de “Morena” foi feito aqui em Lisboa. Qual a sua relação com a cidade?

TIAGO IORC – Minha relação começou em 2012 quando eu vim para cá lançar o meu segundo disco. Eu não conhecia, nunca tinha vindo para cá. Aí vim fazer alguns shows pequenos, de livraria, só para divulgação mesmo e gostei muito. Quando eu estava passeando pelo Chiado (bairro tradicional no centro de Lisboa) fiquei encantado. Gosto muito dessa mistura de cidade contemporânea com a preservação da história, a arquitetura antiga. Estava com essa ideia de gravar um vídeo, e a gente foi e gravou o vídeo de “Morena” ali.

Tiago Iorc

Sexta passada, 28, foi seu aniversário e você já estava aqui por Lisboa. Como foi passar esse dia na capital portuguesa?
TI
 – Foi legal porque eu reencontrei um primo querido que está morando em Londres, mas que cresceu comigo lá no Rio Grande do Sul. Por mais que eu estivesse longe das minhas pessoas queridas, eu estava com elas em pensamento. O mais bonito de tudo é eu estar com o sentimento de estar trabalhando, de estar fazendo alguma coisa que permaneça aqui, que ecoe para as pessoas e deixe alguma mensagem legal. Para mim é esse o significado de estar vivo. E que bom celebrar um ciclo novo fazendo isso.

Tem três álbuns lançados e “Zeski” é o primeiro com músicas em português. Qual foi o motivo da escolha por ter algumas faixas na língua portuguesa?
TI – Nasci no Brasil mas fui criado na Inglaterra, morei nos Estados Unidos, então o inglês sempre foi fácil na hora de compor. E isso se tornou uma particularidade do que eu fazia. Daí os meus dois primeiros discos serem em inglês. Aí, depois, existia essa curiosidade de como seria essa migração ou esse complemento do que eu já fazia com a língua portuguesa, que também é minha. Então foi uma coisa natural, que eu comecei a querer fazer e se encaixou naquele momento, até por se um disco mais colaborativo, com participações de amigos. Fez sentido.

Essas participações do Silva e do Daniel Lopes, em “Forasteiro e “Um Dia Após o Outro”, respectivamente… Eles também fizeram parte da autoria das músicas que você compôs?
TI – Sim, a música com o Silva é uma composição nossa, e a com o Daniel Lopes é feita por nós dois. Foi uma criação desse diálogo meu com ele.

É você quem escolhe esses parceiros?
TI – Eu não estava imaginando fazer parcerias, mas eram pessoas que estavam no meu convívio, eram os meus amigos que fazem música. Então eu comecei a dividir com um e com outro. Quando vi tinha um repertório que fazia sentido.

E as músicas regravadas? Tem “Morena”, “Tempo Perdido”, “Sorte”. É você também quem escolhe regravar essas músicas?
TI – Sim, são músicas que ou fazem parte da minha vida desde sempre, como Legião Urbana, que eu já tocava nos meus shows e aí chegou uma hora que fez sentido fazer um registro, ou no caso de Los Hermanos, a versão de “Morena” foi um convite que eu recebi para participar de uma coletânea em homenagem à banda, e por aí vai. Sempre tem um motivo, mas é de acordo com o que eu quero passar para as pessoas.

Tiago Iorc - Factor X

Tiago Iorc no Factor X

Você nasceu em Brasília e desde então já morou em outras cidades brasileiras e também fora do país. A faixa “Forasteiro” foi criada quando você estava em algum desses lugares em que se sentia um estrangeiro naquela terra?
TI – Foi escrita com essa ideia, mas não enquanto eu estava nessas cidades. Quis passar a ideia de que eu sou um pouco de cada lugar e não sou de lugar nenhum ao mesmo tempo. E foi bastante inspirada numa história que eu ouvi chamada “Teoria do Forasteiro”, que diz que quando alguém de fora chega num determinado assunto ou debate em que não é especializado, a pessoa pode não ter a mesma forma de pensar das outras que são especializadas, mas pode trazer um outro ponto de vista, que não está enquadrado na forma de pensar dos outros, e que pode ser muito interessante. Eu me sinto um pouco assim, sabe? Não me encaixo exatamente em lugar nenhum, mas gosto de estar sempre observando o mundo ao meu redor.

Vi em uma entrevista que, na época da faculdade, quando saiu da casa dos seus pais e foi estudar em Curitiba, iniciou bandas e tocava em bares. Como foi a vida de quem estuda e à noite toca em bares?
TI – Eu adorava! Era a minha festa, era onde eu ganhava dinheiro pelo meu trabalho para fazer as minhas coisas, porque ali eu ainda estava um pouco dependente dos meus pais, que me ajudavam a pagar a faculdade, a comprar comida e tal. Ali eu comecei a ganhar dinheiro e a ter a minha independência. A música me deu essa oportunidade de ser o que eu queria ser, embora eu estivesse estudando outra coisa. Foi ali que comecei a ver que eu poderia fazer a minha história na música.

E os seus pais? Como reagiram quando contou-lhes que tocava em bares?
TI – Eles adoravam que eu tocasse. Desde pequeno eu tocava e alegrava as reuniões de família, na casa da minha vó. E eu sempre tocava em casa. Eles gostavam, mas viam como uma diversão, não como algo que pudesse me sustentar. Acho que viram com um pouco de receio, natural dos pais que não querem ver o filho mal.

Tem um ano que lançou “Zeski”. Já pensa num próximo álbum?
TI – Eu estou compondo, estou organizando as músicas e tal, mas eu não sei. Vou dar uma parada, agora no fim do ano, para descansar porque estou numa turnê (“Voz + Violão”) intensa desde o início do ano lá no Brasil, e aí depois da turnê eu vou ver o que vou fazer.

Texto por Mayra Russo

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