Just a perfect day, Problems all left alone, Weekenders on our own, It’s such fun… Just a perfect day, You made me forget myself, I thought I was, Someone else, someone good…
É Lou Reed com Perfect Day que a meia luz traz Sam Alone & The Gravediggers ao palco do Bafo de Baco em Loulé.
Arrancam com a poderosa Warm do seu anterior álbum Youth in the Dark e a voz rasgada com que canta o refrão My heart beats so warm denuncia a noite anterior do concerto no Musicbox em Lisboa. Sam confessa mais tarde que têm estado a dar tudo nestes dias com a apresentação de Tougher Than Leather, mas ninguém repara tal é a intensidade com que se entrega.
No final do concerto tive a oportunidade de lhe perguntar por esta sua guitarra e se para si a música era uma arma, respondeu sem hesitar: “Claro que é! Sempre foi… (sorri) por isso escrevi isso na guitarra. É uma afirmação da música que fazemos, para não ter de estar sempre a explicar… (o óbvio)”.
Se os americanos têm o seu working class hero Bruce Springsteen nós temos o Sam Alone que antes de iniciar a No Class nos pergunta: Quem esteve hoje a trabalhar? Esta música é dedicada à minha gente… espero que sejam vocês! Ontem em Lisboa estava muita gente como vocês… é bom ver que há tantos como vocês que não são carneirinhos nem ovelhas…
As músicas folk rock de Sam não instigam um espírito agressivo de revolta, pelo contrário, inspiram-nos a uma luta justa e optimista, aquela que é feita da união e da igualdade, dão-nos vontade de dançar e abraçar o amigo ao nosso lado, aproximam-nos: A única coisa que nos separa é altura do palco! diz-nos.
E se há momentos para se falar mais a sério, passar uma mensagem, também há aqueles para nos divertirmos e para dançar. Sam diz-nos em tom de brincadeira: Se alguém que não puder comprar o disco porque gastou tudo em bebida ainda bem! Saquem da net, ponham numa pen e dêem à vossa mãe! (a boa disposição está instalada e a cerveja circula)
Sam Alone e os Gravediggers mais do que em casa estão entre amigos, os novos e os de infância que do fundo da sala vão fazendo a festa, aos quais dedica a música nova Another Mile: wish we could live it all again, wish we could run wild again…
Entretanto já ouvimos uma versão bastante rock da Sultains of Swing dos Dire Straits, com um fantástico solo de guitarra de João Ricardo, que Sam interrompe no final e lhe pede para tocar novamente, confessando-nos que o seu sonho era saber fazer este solo.
Falta apresentar os outros talentos dos Gravediggers: Guru na bateria, Roy Duke no baixo e contra-baixo, Ricardo Cabrita nas teclas, Pedro Matos na guitarra rítmica e há ainda espaço para mais convidados, junta-se agora Paulo Machado que os vai acompanhar no acordeão até ao final.
E como é que se faz uma versão justa a música que já conheceu as mais diferentes interpretações e é aliás conhecida sobretudo pela cover de Jimi Hendrix, que por vezes até se confunde o seu autor original? André Mealha consegue-o e faz uma interpretação brilhante pela honestidade com que canta cada palavra e toca a sua harmónica.
No final salta do palco e abraça os seus amigos enquanto ouvimos Redemption Song pela voz de Johnny Cash, Won’t you help to sing another song of freedom? ‘Cause all I ever have, Redemption songs…
Texto por Vera Brito / Fotografia por 5th Realm