Sam is not Alone

Just a perfect day, Problems all left alone, Weekenders on our own, It’s such fun… Just a perfect day, You made me forget myself, I thought I was, Someone else, someone good…

É Lou Reed com Perfect Day que a meia luz traz Sam Alone & The Gravediggers ao palco do Bafo de Baco em Loulé.

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Aqui não precisam de apresentações e o ar sente-se electrizante. São anos de cumplicidade entre a banda e esta casa que luta por trazer boa música ao Algarve já vão para lá de 20 anos. Mais para o final Sam vai dedicar ao Bafo uma música mas agora começa um concerto de quase 3 horas carregado de emoções, convidados especiais, onde ainda houve tempo para tributos a artistas que explicam muito do percurso de Sam e dos Gravediggers.sam2
Arrancam com a poderosa Warm do seu anterior álbum Youth in the Dark e a voz rasgada com que canta o refrão My heart beats so warm denuncia a noite anterior do concerto no Musicbox em Lisboa. Sam confessa mais tarde que têm estado a dar tudo nestes dias com a apresentação de Tougher Than Leather, mas ninguém repara tal é a intensidade com que se entrega.
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Que pretendem afinal as músicas de Sam Alone & The Gravediggers? Para quem ainda não percebeu Sam pega agora na sua acústica Working Class Rifle e conhecemos Shine do novo álbum: Evil will try to bring you down, hold your ground! You find glory under the big blue sky coz souls like ours were meant to shine!

No final do concerto tive a oportunidade de lhe perguntar por esta sua guitarra e se para si a música era uma arma, respondeu sem hesitar: “Claro que é! Sempre foi… (sorri) por isso escrevi isso na guitarra. É uma afirmação da música que fazemos, para não ter de estar sempre a explicar… (o óbvio)”.
Se os americanos têm o seu working class hero Bruce Springsteen nós temos o Sam Alone que antes de iniciar a No Class nos pergunta: Quem esteve hoje a trabalhar? Esta música é dedicada à minha gente… espero que sejam vocês! Ontem em Lisboa estava muita gente como vocês… é bom ver que há tantos como vocês que não são carneirinhos nem ovelhas…

As músicas folk rock de Sam não instigam um espírito agressivo de revolta, pelo contrário, inspiram-nos a uma luta justa e optimista, aquela que é feita da união e da igualdade, dão-nos vontade de dançar e abraçar o amigo ao nosso lado, aproximam-nos: A única coisa que nos separa é altura do palco! diz-nos.

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E se há momentos para se falar mais a sério, passar uma mensagem, também há aqueles para nos divertirmos e para dançar. Sam diz-nos em tom de brincadeira: Se alguém que não puder comprar o disco porque gastou tudo em bebida ainda bem! Saquem da net, ponham numa pen e dêem à vossa mãe! (a boa disposição está instalada e a cerveja circula)

Sam Alone e os Gravediggers mais do que em casa estão entre amigos, os novos e os de infância que do fundo da sala vão fazendo a festa, aos quais dedica a música nova Another Mile: wish we could live it all again, wish we could run wild again…

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Este concerto está cheio de dedicatórias e a que seguiu foi a mais pessoal, Sam sozinho em palco pede-nos desculpa se falhar uma nota ou duas mas promete dar tudo o que tem e dedica Sacrifice à sua mulher e companheira que juntamente com os Gravediggers o ajudam neste solo cantando do lado do palco.

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Entretanto já ouvimos uma versão bastante rock da Sultains of Swing dos Dire Straits, com um fantástico solo de guitarra de João Ricardo, que Sam interrompe no final e lhe pede para tocar novamente, confessando-nos que o seu sonho era saber fazer este solo.

Falta apresentar os outros talentos dos Gravediggers: Guru na bateria, Roy Duke no baixo e contra-baixo, Ricardo Cabrita nas teclas, Pedro Matos na guitarra rítmica e há ainda espaço para mais convidados, junta-se agora Paulo Machado que os vai acompanhar no acordeão até ao final.

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Será que ainda cabe mais alguém em palco? Chega André Mealha para cantar uma cover da All Along The Watchtower de Bob Dylan seguramente outro dos heróis musicais de Sam e dos Gravediggers.
E como é que se faz uma versão justa a música que já conheceu as mais diferentes interpretações e é aliás conhecida sobretudo pela cover de Jimi Hendrix, que por vezes até se confunde o seu autor original? André Mealha consegue-o e faz uma interpretação brilhante pela honestidade com que canta cada palavra e toca a sua harmónica.

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Mais uma música mais um convidado, aliás convidada, Inês Miranda sobe ao palco para acompanhar a Shadow of a Hero, música em que participa também no novo álbum.

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Entretanto já tanto aconteceu que perdemos um pouco o rumo à setlist, às covers e aos convidados, há agora espaço para o improviso (pelo menos Sam garante-nos que não ensaiaram o que se segue) e Roy Duke traz-nos uma música rockabilly, da sua banda Texabilly Rockets, pondo-nos todos a dançar e a cantar Baby I’m sitting on the top of the world enquanto dedilha o contra-baixo.
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O concerto termina com Tougher Than Leather, single do novo álbum com o mesmo nome, que Sam dedica ao Bafo e à sua gente (que podem ver no vídeo abaixo).
No final salta do palco e abraça os seus amigos enquanto ouvimos Redemption Song pela voz de Johnny Cash, Won’t you help to sing another song of freedom? ‘Cause all I ever have, Redemption songs…

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O Sam não está Alone, com ele cantamos músicas de liberdade, fazemos nossa a sua luta e acreditamos num futuro melhor para todos nós, somos feitos de um material forte… somos tougher than leather.


Texto por Vera Brito / Fotografia por 5th Realm

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